Política
Prefeito de Envira contrata ex-ministros do TSE como seus advogados por milhões enquanto cidade sofre com abandono

Amazonas – Em meio a uma enxurrada de denúncias e à crescente insatisfação popular com sua gestão, o prefeito de Envira, Ivon Rates, decidiu apostar alto para tentar garantir sua permanência no cargo. Envolvido em uma disputa judicial que questiona sua elegibilidade nas eleições de 2024, Rates contratou nomes de peso para sua defesa: ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conhecidos por atuarem nos bastidores das disputas eleitorais mais complexas do país.
Segundo especialistas em direito eleitoral, a atuação desses profissionais não sai por menos de R$ 1,5 milhão, valor que levanta questionamentos inevitáveis em uma cidade onde até o básico falta. A contratação reforça a estratégia do prefeito de levar a batalha até as últimas instâncias em Brasília, tentando reverter a cassação de seu registro de candidatura. Ivon Rates foi eleito em 6 de outubro de 2024 com 52,34% dos votos válidos.
No entanto, coligações adversárias apresentaram impugnações logo após o pleito, alegando irregularidades em sua elegibilidade com base em apontamentos do Tribunal de Contas da União. Em um primeiro momento, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) acatou os pedidos e cassou seu registro. Após recursos, a decisão foi revertida temporariamente, restabelecendo seus direitos políticos.
Agora, o julgamento final cabe ao TSE. Paralelamente à disputa nos tribunais, a realidade de Envira é marcada por carências profundas e uma gestão pública cada vez mais criticada. A Prefeitura tem sido alvo de denúncias constantes, especialmente ao longo de 2025, ano em que a crise administrativa se intensificou. Em maio, mais de 1.500 alunos da rede municipal ficaram sem aulas.
Com isso, a prefeitura quase comprometeu o acesso de crianças ao Bolsa Família, por falhas de gestão. Em junho, a Justiça do Amazonas determinou que Rates a reintegrar servidores concursados afastados ilegalmente, apontando violação de direitos.
O episódio mais grave ocorreu em 29 de julho, quando indígenas do município protestaram contra a Prefeitura. O motivo foi o atraso no pagamento de benefícios e a demora no sepultamento de uma criança indígena, o que gerou denúncias de abandono e negligência com as comunidades tradicionais de Envira. A insatisfação da população não para por aí.
A merenda escolar é alvo de reclamações, o transporte de alunos é precário, e os aluguéis de prédios usados como escolas na zona rural estão em atraso. As farmácias das Unidades Básicas de Saúde foram desativadas, e o hospital municipal enfrenta sérios problemas de infraestrutura. Enquanto isso, servidores contratados de forma irregular sofrem com salários atrasados, e concursados continuam impedidos de assumir seus cargos, mesmo com respaldo judicial.
Diante desse cenário, a explicação da Prefeitura para os inúmeros problemas é sempre a mesma: falta de recursos. No entanto, a justificativa perde força diante do alto investimento feito na defesa jurídica do prefeito. A disparidade entre a realidade enfrentada pelos moradores de Envira e os recursos mobilizados para sustentar uma batalha milionária em Brasília escancara uma contradição difícil de ignorar.
Em uma cidade onde falta merenda, transporte, saúde e respeito às comunidades tradicionais, o prefeito Ivon Rates parece priorizar apenas sua própria sobrevivência política.
Fonte: Portal CM7BRASIL